07 julho 2008

Ao mundo

Processo doloroso de entrar em mim mesma com uma lanterna, vasculhando todos os cantos. Tenho certeza que muitos ainda estão escuros, ocultos. Só me resta me conformar com os limites de cada processo. O resto da vida me espera pra encontrar meus outros cantos.
Entro em mim mesma à procura dos meus coelhinhos para vomitar. Quais são as coisas que moram dentro de mim e que precisam sair? Algumas saem sem que eu precise procurá-las, pequenas irrupções de mim mesma no mundo.
Mando guardanapos pelo garçom, informando a beleza que eu vejo. Vomito sobre o mundo o meu olhar. Talvez seja isso o que cada um de nós tem para dar ao mundo: o seu olhar. Vejo belezas em lugares inesperados, inacreditáveis para outros olhares. Informo. Me sinto impelida, quase obrigada a informar. Os objetos do meu olhar muitas vezes não recebem bem minhas declarações de encantamento. Confundem com outros encantamentos possíveis. Que seja. Não é possível dominar os usos e destinos do que oferecemos ao mundo. Isso não me incomoda exatamente, talvez me entristeça um pouco. Informar não é fácil, transpor o espaço que separa uma pessoa de bem de outra pessoa de bem.
Ofereço ao mundo meu visual pirulito. Foi a melhor definição que já me deram pra isso que governa minhas escolhas e combinações de roupas. Se isso serve pra alguma coisa? Não faço idéia. Isso não me cabe. Apenas sou essa pessoa, circulando por aí, com um visual pirulito. Cabe a outros olhares dar sentido a isso, seja lá qual for. Guardo dentro de mim uma pequena esperança de que meu modo de ser cause algo nas pessoas a meu redor. Se possível, algo de bom. Ou ruim. A gente também precisa de coisas que nos incomodem de vez em quando.
Na altura do meu estômago, tenho um buraco. Ele anda sempre comigo. Muitas vezes não o percebo. Outras vezes ele dói. Outras ainda, suga tudo em mim, se transforma em buraco negro. Como se dança isso? Como se dança o buraco que carrego na altura do estômago? Como o desperto sem que ele me sugue? Me movo a partir dele. Procuro o limite entre me colocar em cena e me colocar em terapia. Difícil.
Algumas coisas são difíceis, outras são bem fáceis. Escrever é fácil. Dançar é difícil. Decidir como dançar o que se quer dançar é difícil. Mostrar aos outros o que decidi dançar e como decidi dançar dá medo. Se colocar como objeto de outros olhares dá medo. Que venham.
Ofereço ao mundo a minha coragem. É preciso coragem para dançar seu buraco na altura do estômago. Mais coragem para mostrar isso a outros olhares. Dizer sim, isso é meu, é assim, e eu decidi dançar desse jeito a partir disso. Dá medo de não ser compreendida, de não ser respeitada, essa coisa toda de se colocar como que nua na frente dos outros.
Ao mundo meu caos que dá à luz uma estrela dançante. É sempre um caos aqui dentro, não posso evitar. Até aprendi a gostar dele. A estrela dançante paga o preço do caos. Não abro mão. Nada me toca do mesmo jeito.
Ofereço ao mundo minha inconstância. Me é extremamente difícil manter o ritmo das coisas, me manter num ritmo compatível com o do mundo. Me esforço. Me esforço tanto que canso. Chega o dia em que eu preciso descansar, então hiberno. Faço uma viagem para dentro de mim, saio completamente do mundo em que as outras pessoas vivem. Desapareço. Faço um esforço enorme pra voltar, nunca sem prejuízos.
Meu esforço. Isso eu ofereço ao mundo. Ao mundo ou a mim mesma? Limite difícil esse. Ofereço a mim mesma, sim. Mas esse é o princípio de oferecer ao mundo, não? Considerando que afeto quem estiver à minha volta, mesmo que eu não perceba, algo que eu ofereça a mim é oferecido indiretamente ao mundo. Enfim, é o que eu penso. Esse é meu caos de pensamento. Ainda bem que dá em estrela dançante.
Neste ponto, faz muito sentido a necessidade de pedir contribuições de pessoas que me conheçam. Gostaria que elas me dissessem coisas que ofereço sem perceber, sem querer. Pode ser bastante proveitoso. Isso também dá medo. Ainda bem que tem a coragem.
O resto fica pra depois. Ia dizer que ofereço minhas desistências. É verdade, desistências moram em mim. Esforços e desistências. Esforço e cansaço. Mas esta aqui
é só uma pausa.

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